Um Lugar Chamado Nárnia – Parte VII

14.9.12

Escrito por: Renata Ribeiro Arruda (Grupo News)

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No fim, todos encontram o que realmente procuram

Este artigo é o sétimo e último de uma sequência sobre “As Crônicas de Nárnia”, criação do escritor irlandês C.S.Lewis, que teve, recentemente, três episódios da série adaptados para o cinema: “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, “Príncipe Caspian” e “A Viagem do Peregrino da Alvorada”.
“Nárnia, Nárnia, desperte! Ame! Pense! Fale! Que as árvores caminhem! Que os animais falem! Que as águas sejam divinas!”. Foi assim, de maneira mágica, que Aslam deu início ao mundo de Nárnia. No entanto, a visão que nos mostra o último livro das Crônicas de C. S. Lewis não é tão admirável quanto nos sugere esse trecho inicial da série. A situação em “A última batalha” é um tanto quanto caótica. O país de Aslam se apresenta agora desfigurado.
O livro tem início com a presença de dois animais falantes nada convencionais. Trata-se de um burro e um macaco. O primeiro parece fazer jus ao estereótipo que cerca o seu nome: embora nobre de coração, é facilmente enganado, não desconfia. O macaco faz o tipo “malandro” e, para se dar bem, aproveita-se da ingenuidade do “amigo”, que está mais para servo. É uma dupla desastrosa, pois o ignorante burro, Confuso, cede aos caprichos do maldoso macaco, Manhoso. Os nomes revelam bastante sobre os personagens, a partir dos quais Nárnia se converterá num lugar terrível.
Assim como as analogias feitas por Lewis para a criação do mundo são muito bem desenvolvidas em “O sobrinho do mago”, o primeiro livro da série, as comparações para os tempos do fim são proporcionalmente sábias no livro em questão. O fato é que a partir de uma ideia mirabolante de Manhoso, estúpida e inocentemente acatada por Confuso, um falso Aslam é criado. Tão falso que sua invenção faz circular até mesmo a mentira de que Aslam e Tash – o abominável deus calormano – são uma única pessoa. Nada parecido com o Grande Leão, o calunioso rei é manipulado por homens e bichos extremamente gananciosos que iniciam um terrível massacre às florestas de Nárnia.
Aliás, não sei até que ponto isso seria uma crítica do autor, mas a derrubada de inúmeras árvores em Nárnia com interesses puramente comerciais – pois a ideia era vender madeira aos vizinhos calormanos – permite uma estreita correspondência com os dias atuais. Afinal, nossas florestas também têm sido destruídas em favor de lucros exorbitantes de empresários de caráter duvidoso. A desolação, a tristeza, a falta de paz que predizem o fim em nosso mundo estão adequadamente representadas no mundo de Nárnia no último livro da série.

Amigos de Nárnia

Como sempre acontece quando o país de Aslam vive tempos difíceis, em “A última batalha” crianças humanas, filhos de Adão e Eva, também são enviadas para ajudar a salvar Nárnia. A razão para isso é que o mal foi trazido por eles, descendentes de Adão e Eva, e por eles deve sempre ser retirado.
A cada livro da série percebemos uma progressão no tempo: as crianças crescem e, desse modo, algumas não podem mais voltar a Nárnia. Ao longo das sete crônicas, entre idas e vindas, oito crianças de nosso mundo são atraídas por Aslam. Entretanto, como em nenhum outro livro, o último reúne todas as crianças num mesmo espaço.
Organizado em nosso mundo pelas crianças pioneiras, Polly e Digory – na ocasião já idosos –, um encontro despretensioso acontece entre os “amigos de Nárnia”. É enquanto conversam sobre os bons momentos no mundo mágico, que são surpreendidos por uma visão que entendem como um pedido de socorro. Mas, como de costume, apenas Jill e Eustáquio, os mais novos da turma, são levados até Nárnia para ajudar Tirian, o rei que governa o país neste momento final.

O calormano que servia a Aslam

Omito aqui muitos detalhes interessantes e ricos que tornam a leitura agradável e surpreendente, além é claro de permitirem significativas comparações. Mas gostaria de ressaltar uma importante, e talvez a mais tocante, mensagem captada por mim em “A última batalha”.
O fato é que a ideia de manipular um falso Aslam foi logo aderida pelos mais cruéis dos calormanos, que estavam apenas interessados em lucros, uma vez que não se davam bem com os narnianos. Os moradores da Calormânia eram devotos de Tash e tão desprezíveis quanto seu deus. Em sua maioria, eram maus e indecentes. Basta lembrar a parceria que fizeram com o macaco.
Entre eles, porém, existia um calormano especialmente fiel e crente em Tash, cujo nome era Emeth. Ele fora convocado para ir a Nárnia lutar pelo deus calormano, o que fez com grande prazer. Entretanto, ao chegar ao país do Norte, ouviu dizer que Tash e Aslam eram uma pessoa só, o que o deixou frustrado. Durante toda sua vida, dedicara-se a Tash e aprendera a odiar o Leão, inimigo de seu deus. Percebeu também que tudo não passava de uma farsa e que tanto calormanos quanto narnianos estavam sendo enganados.
Foi então numa reunião noturna entre os dois povos, cujo objetivo era apresentar o Tashlam (nome que criaram para o deus híbrido), que supostamente vivia agora numa cabana e estava enfurecido e pronto para matar, que o inesperado aconteceu. Os manipuladores do falso deus preparavam uma cilada para calar as vozes contrárias que queriam desmentir a existência de Tahslam. Convidaram quem quisesse para entrar na cabana e ver Tashlam face a face; alertaram, porém, para o perigo de morte, que eles mesmos trataram de preparar. Emeth não hesitou e quis conferir. Passara toda sua vida em busca de Tash, aquela era uma chance imperdível.
Como em Nárnia tudo pode acontecer, a barraca realmente levou Emeth ao país de Aslam. E surpreendentemente, o Grande Leão vinha agora em sua direção. Embora o calormano sentisse certa satisfação em vê-lo, pensou que morreria. No entanto, não foi o que aconteceu. Emeth confessou, diante do que chamou “glorioso ser”, que era servo de Tash e ficou surpreso quando Aslam respondeu que considerava as obras prestadas a Tash como sendo feitas para ele. Confuso, Emeth questionou se era realmente verdade que os dois deuses eram um só, ao que o Leão respondeu:
“Eu e ele somos tão diferentes, que nenhum serviço que seja vil pode ser prestado a mim, e nada que não seja vil pode ser feito para ele. Portanto, se qualquer homem jurar em nome de Tash e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber, e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer uma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado o nome de Aslam, é a Tash que está servindo.”
Confirmamos aqui um ponto crucial sobre nossa fé: ela é validada por nossas ações. Pedir ou pregar “em nome de Jesus” não nos garante estar dentro da vontade Dele nem que somos de fato seus filhos. Com certeza, há muitos Emeths que, embora não sejam aliados à religião cristã, têm sido fiéis a Deus. E, não há dúvidas, o contrário também é verdade. Entretanto, apenas Jesus consegue sondar nosso coração a ponto de perceber nossa verdadeira intenção.
Por fim, gostaria de fechar a série com uma frase que Aslam diz na sequência para o calormano: “…Todos encontram o que realmente procuram”.
Ilustração: Pauline Baynes

2 comentários

  1. Lendo esse texto me deu vontade de reler todo os livros das Crônicas novamente! Que livros maravilhosos...

    Gostei muito do resumo e da visão sobre as passagens. :)

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    1. Que bom que gostou Juliane!
      Acho que sempre vale a pena reler os livros, as Crônicas são uma fonte inesgotável de inspiração ;)

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