"Você realmente quer me seguir? Então abandone seus pressupostos, esteja disposto a morrer, e depois siga-me." (Lucas 9.23).
Não sei a razão, mas estas palavras de Jesus sempre me deixaram desconcertado. Ah sim, me desculpe! Tomei a liberdade de fazer uma tradução mais próxima daquilo que Jesus quis dizer à época e o que essas palavras significam para nós, hoje.
Nossa tendência é pensar na vida cristã como um grande parque de diversões, ou, na pior das hipóteses, como uma espécie de spa. Nada mais longe da proposta que Jesus fez aos seus seguidores. Inclusive, Ele nunca escondeu que segui-Lo custaria a morte daqueles que tomassem essa decisão. Prisões, açoites, mortes e perseguições seriam as consequências de seguir o Príncipe da Paz.
Uma leitura cuidadosa do principal discurso de Jesus, o sermão do Monte (Mt 5 a 7), nos mostrará que a perseguição é a única das bênçãos que Jesus se preocupou em explicar (Mt 5.10-12), assim como é a única que Ele relacionou com o Antigo Testamento. Isso pode significar que esta bênção não era algo relacionado apenas à nova aliança.
Pouco tempo depois, este ensino faria parte da tradição dos apóstolos. Isso é verificado na carta de Paulo aos romanos, na qual ele cita literalmente as palavras de Jesus (Mt 5.44 e Lc 6.28), ensinando qual deve ser a reação dos cristãos diante da realidade da perseguição (Rm 12.14).
Paulo ainda condena a atitude covarde dos gálatas, frente à perseguição que a cruz de Cristo traz, ao se submeterem ao rito da circuncisão (Gl 6.12). Para Paulo, a cruz de Cristo traria a oposição e a perseguição. Logo, para Paulo, não havia um meio termo entre o cristianismo e a aceitação social plena do cristão.
No fim de seu ministério, Paulo escreve ao seu discípulo Timóteo, animando-o à perseverança, e não faz questão de esconder que tempos difíceis estavam por vir. Algumas recomendações acerca de como enfrentar e se preparar para esses tempos tão sombrios, estão registradas em 2 Timóteo. Em 2 Tm. 3.12 Paulo faz uma afirmação um tanto dura e bem expressiva: "De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos". Como lidar com isso?
O apóstolo Pedro, estranhamente, afirma que a perseguição por seguir a Jesus deve gerar alegria no cristão (1 Pe 4.13,14).
A perseguição aos cristãos marcou a origem da Igreja Cristã, descrita em Atos, tanto quanto influenciou a produção literária do Novo Testamento e a perspectiva de vida dos cristãos dos três primeiros séculos d.C, cumprindo as palavras de Jesus aos seus discípulos.
Embora os cristãos não esperassem pela morte, e, por vezes fugissem, de acordo com os relatos dos Evangelhos e Atos, vimos que os cristãos dos séculos I e II não ignoraram o fato de que as perseguições faziam parte de sua rotina, sendo consideradas por alguns, parte do plano de Deus para os cristãos, além de uma espécie de teste que provava sua fidelidade a Cristo. A perseguição e o sofrimento permearam os ensinamentos contidos no Novo Testamento.
Analisando a história do nascimento da Igreja Cristã, não podemos nos furtar de responder a algumas questões: Será que não perdemos o foco quando deixamos de perceber, em nossa leitura bíblica e histórica, o sofrimento pelo qual os escritores passaram enquanto redigiam os evangelhos e cartas? Será que o cristianismo é realmente uma religião triunfalista? Será que a Igreja moderna não deveria dar mais importância à questão do sofrimento do cristão, em detrimento apenas das bênçãos e vitórias materiais?
Agora tente viver em paz com sua consciência.
Alexandre Milhoranza
Texto retirado do Blog JuveMetodista