ALÉM DA TEOLOGIA
18.1.14
Há alguns anos atrás quando me converti ao cristianismo por convicção
(e não somente porque meus pai frequentavam uma igreja cristã) passei a estudar
um pouco mais sobre teologia, com o objetivo bacana de saber explicar melhor as
outras pessoas sobre aquilo que passei a acreditar e viver.
Falar sobre Deus é algo interessante. Às vezes parecemos cientistas ou
filósofos tentando explicar a teoria toda. O evangelho parece uma história, uma
revelação, um teorema perfeito, e Deus é o centro para onde tudo se vai e
recomeça. Mas em muitas dessas conversas (na verdade em todas) eu sempre saí
com a sensação estranha de que nada daquelas palavras se pareciam realmente com
Deus. Principalmente se era com um descrente ou ateu convicto com quem conversava,
o que geralmente terminava em discussões cheinhas de farpas.
Questionei a Deus sobre isso umas três vezes em oração, e fiquei
pensando um bocado de tempo, até que um dia a revelação sobrenatural aconteceu.
Foi em Salmo 23, aquele mesmo sobre os pastos verdejantes, onde Deus me mostrou
o que eu estava fazendo com o evangelho e o que eu realmente deveria fazer.
Salmo 23 é quase uma música pop. Todo mundo conhece de cor, lê, relê e
as crianças adoram decorá-lo. Por sobre esse salmo muitos ja passaram, às vezes
sorrindo, às vezes chorando, porém encontrando nele um alívio grandioso para
suas aflições. Há ali, porém algo que corriqueiramente passa despercebido pelos
olhares alheios. No início do verso o salmista (Davi) começa se referindo a
Deus na terceira pessoa, quando diz "O
Senhor é meu Pastor e nada me faltará. ELE me faz repousar... [ELE]
refrigera-me a alma... [ELE] guia-me pelas veredas da justiça" (v. 1-3).
Logo então o pronome muda e o autor passa a se referir ao seu Pastor de outra
forma, mais íntima: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não
temerei... porque TU estás comigo. A TUA vara e o TEU cajado me consolam. [TU]
Ungis-me a cabeça com óleo".
Perceberam?
Essa diferença pronominal não é por acaso (nada na Bíblia o é), pois
eis aqui, nesse "jogo de palavras" uma verdade profunda sobre o nosso
entendimento de Deus. Falar sobre Ele é natural, faz parte, é maravilhoso na
verdade. Mas não dá pra falar sobre Deus sem ter vivido algo com Ele. Davi
começa falando sobre Deus, sobre quem Ele é e o que significa para as pessoas,
por isso a comparação com um Pastor de ovelhas. Contudo, ele prossegue logo
dizendo quase de si mesmo e o que esse Deus faz por ele, principalmente (no
caso) em momentos de solidão e dificuldades, no vale da sombra da morte.
Já conheci teólogos que não são cristãos. Isso não cabe na minha
cabeça, mesmo eu me forçando a entender. Pessoas que estudam a bíblia como um
livro de ciências mas, não "conhecem" o seu Autor. Claro que podemos
estudar a Bíblia de forma racional, pesquisa-la, "esquadrinhá-la"
como ela mesma diz. E devemos fazer isso. Devemos conhecê-la, “conhecer a razão
da nossa Esperança" como diz Paulo. Mas falar sobre Deus sem conhecê-Lo é
tentar usar palavras sem poder. As pessoas ao ouvirem você falar sobre Deus
estão sempre esperando que exista algo mais (poderoso e sobrenatural) naquele
assunto. Não tem como falar sobre Ele da mesma forma que se fala sobre o clima.
Isso nem é correto.
Deve haver muita teologia em uma conversa sobre Deus. Mas também deve
haver muito sobre você e Ele nessa conversa. Muito sobre as suas próprias
experiências cristãs. Sobre a sua transformação, paixão, atitudes, descobertas,
etc. O cristianismo é empírico, não tem jeito. Dessa forma muitos entenderão, e
com convicção, que Deus é muito mais próximo de nós do que diria toda a vã
filosofia.
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