O QUE HÁ DE ERRADO COM OS FILMES CRISTÃOS

28.3.14

Foto: Miles Aldridge

Hoje, pela manhã , li uma crítica do filme God’s Not Dead no Gospelspam.come me deparei com a tese da crítica na qual li o seguinte título "Deus não está Morto, mas os roteiros Cristãos estão".

A crítica tinha várias coisas boas sobre o filme, mas também várias coisas sobre os problemas dos roteiros Cristãos atuais, principalmente o enredo. Isso mexeu comigo e me fez refletir, pois sou Cristão e estudo roteiros de cinemas desde 2007. Eu escrevi enredos (produzidos e não produzidos) e publiquei meu primeiro romance, Thimblerig’s Ark, recentemente. Senti que deveria responder nos comentários no Gospelspam.com, e então decidi repetir alguns comentários aqui.

Bem, primeiramente, não pretendo atacar meus caros artistas Cristãos. Normalmente, tenho grande respeito por qualquer um que transforme uma ideia em filme, e pelos artistas Cristãos, e também respeito a intenção por trás de todo o processo. E sei que talvez haja alguns filmes Cristãos independentes que sejam bons e que ainda tentam alcançar mais espectadores, mas infelizmente não conseguem por inúmeros motivos. A ideia desse artigo é demonstrar a minha frustração com os limites encontrados pelos artistas Cristãos, impostos pela igreja em geral.

Por séculos a igreja foi a principal patrocinadora da arte, Cristãos foram responsáveis por desenvolver a arte culturalmente, e nós vemos grandes artistas como Bach, Handel Mozart, Rembrandt, Michelangelo e muitos outros que contribuíram com a arte. Mas por algum motivo, os Cristãos não têm conseguido conquistar um grande público com a arte escrita, o que é irônico levando em consideração que somos os guardiões da maior história já contada. Apesar de haver algumas exceções (C.S. Lewis e Flannery O'Connor no ramo literário para exemplificar), os Cristãos atuais parecem enfrentar dificuldades ao criar uma história cativante com um final profundo que irá além da igreja.

Esse é um tópico de várias camadas, e é, felizmente, um tema que está sendo discutido entre artistas e escritores Cristãos. Em 2007, eu tive a oportunidade de passar por um curso intensivo de roteirista por um mês em Hollywood com a Act One, uma organização que ensina escritores e produtores Cristãos a escrever e produzir bons filmes com integridade. Foi um dos meses mais excitantes de minha vida, pois discutíamos sobre isso diariamente. Desde então, eu consigo ver três grandes obstáculos que os artistas Cristãos enfrentam quando tentam escrever, cantar ou filmar algo que poderá causar impacto no mundo. E pelo bem desse artigo, focarei no roteiro cinematográfico Cristão.

O primeiro problema é que o roteiro Cristão precisa ser SEGURO. Quando foi a última vez que vimos um filme "baseado na fé" que era proibido para menores de 16 pois continha a verdadeira descrição do pecado? É um grande dilema, pois como seguidores de Cristo, não queremos pecar ou induzir as pessoas a pecarem por meio do filme, mas isso limita nossa capacidade de retratar a vida. Se você é Cristão, quando foi a última vez que viu um filme Cristão que questionou a sua fé? Qual foi o último filme Cristão que lhe fez perguntas sem dar respostas? Será que a grande cultura Cristã permite isso?

O segundo problema é que os filmes Cristãos precisam ser PREVISÍVEIS. Quando estava nos acampamentos de verão no Cazaquistão, um amigo me fez perceber que a representação de Satanás sempre foi mais interessante que a de Jesus. Ele também disse que isso não era grande coisa, pois Satanás não era interessante, seja lá como fosse apresentado, ele sempre agia da mesma maneira, e o mesmo se aplica a Jesus. Percebi que nos filmes Cristãos o protagonista e o antagonista sempre agem de um modo específico, se não fizerem, o filme não será bem aceito. O que o público quer? O não-Cristão precisa se converter, e o Cristão precisa encontrar a "vitória" de algum jeito. Meu maior desapontamento com o filme dos irmãos Kendrick, "Facing the Giants" (Desafiando os Gigantes), é que o filme teve a incrível oportunidade de mostrar como os Cristãos lidam com a falha, mas mesmo assim os produtores do filme decidiram torná-lo um filme no qual a oração muda o rumo da história. Apesar de ser previsível, o filme fez um enorme sucesso.

O terceiro problema é que a produção cristã deve PREGAR AO PÚBLICO. Com exceção da "Paixão de Cristo" de Mel Gibson, quantos filmes conseguiram progredir culturalmente fora da igreja? Quando foi a última vez que um filme criado por Cristãos foi aclamado por críticos não-Cristãos? No último fim de semana, "Deus não está Morto" teve uma boa bilheteria, conseguindo um total de US$9,2 milhões, mas quanto desse dinheiro veio de não-Cristãos? O filme atualmente possui 40% no Rotten Tomatoes, o que é muito para um filme cristão.

O filme de Darren Aronofsky que ainda está por vir, Noé, é um caso bem interessante para mim, e é um filme que gostaria de ver há um bom tempo. Infelizmente, um motivo que me faz ter esperança no filme, é que ele NÃO foi criado por Cristãos, e enquanto o estúdio quer um "pedaço da torta" que é a bilheteria cristã, Aronofsky fez o filme que desejava. Estou bem mais interessado nesse filme do que em "Deus não está Morto" ou no recente "Filho de Deus", pois será tudo que um filme Cristão não é, será perigoso, forçando o espectador a repensar a clássica história de Noé, será totalmente imprevisível, pois Aronofsky não está limitado pela lealdade ao moderno.
Quão bom seria se um filme criado por Cristãos conseguisse a mesma bilheteria que Noé terá, com um público totalmente heterogêneo? Aqui está o que acredito que o corpo de Cristo pode se tornar:
1) Precisamos permitir que os artistas arrisquem mais. E aos artistas, com permissão ou não, arrisquem mais. Você conseguiu mesmo trabalhar com arte estando na sua zona de conforto? Por que ficar na zona de conforto se possui algo melhor a dizer?

2) Precisamos encorajar nossos artistas a desafiarem ao invés de mexerem com nossa sensibilidade. Uma pérola é criada quando a sujeira irrita a ostra. Ou seja, não esperem por permissão. Comece a desafiar seu público. Eles tentarão resistir, sem dúvida alguma, mas precisamos ser desafiados ou ficaremos estagnados e nos tornaremos irrelevantes.

3) Precisamos reconhecer que a arte é arte, o pregador é pregador, e mesmo que seus caminhos se cruzem uma vez ou outra, eles são seres diferentes. Isso se aplica a todos. Será que todo mundo entende isso? Com todo o criticismo em relação a Noé não ser "bíblico", concluo que muitas pessoas não entendem.

4) Precisamos nos acostumar com filmes que não trazem todas as respostas. Mesmo que consigam questionar de forma eficiente e profundo, eles acabam abrindo portas para discussões nas quais as respostas podem ser exploradas. Artistas, não faz parte do seu trabalho gerar a dúvida? Não ache que deve pôr um ponto final em toda discussão.

5) E mais importante: conte boas histórias. Como Frank Capra disse "Se quiser mandar uma mensagem, tente a Western Union." Caso você for um artista, a qualidade do seu trabalho deveria ser a sua prioridade. Jesus não foi conhecido por contar histórias ruins que deixavam as pessoas com raiva. Ele foi conhecido por contas histórias persuasivas que desafiava seu público enquanto passava a palavra de Deus. Não deveríamos fazer como Jesus?

Tenho que concluir o artigo ressaltando que respeito os Cristãos que estão tentando entrar no ramo de produção de filmes, e espero que consigam. Apenas espero que consigam entender como contar A História, a maior história de todas, do jeito que ela merece ser contada, e que seja tão boa que atraia pessoas que estão fora da cultura Cristã.

Texto: Nate Fleming
Tradução: Pedro Blasque


10 comentários

  1. Nossa ótimo post porque toda vez que assistia um filme cristão poucos foram que realmente mexeram comigo, Deus criou a arte e temos a liberdade de usá-la para glória dele eu oro para que Cristo acorde uma geração de roteiristas e cineastas e etc cheios de inspiração e unção para levar o evangelho ! :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada! Creio que as pessoas precisam começar a pensar fora da caixa, para além dos muros da igreja, só assim Deus poderá usá-los de uma forma realmente inspiradora e impactante no mundo

      Excluir
  2. Sou crítico de cinema e preciso concordar: cinema cristão infelizmente é de baixa qualidade. A preocupação demasiada de separar o santo do profano faz com que as produções não ultrapasse o nível do didatismo eclesiástico. Vamos ver "Noé". Aronofsky é um diretor muito inteligente. Com certeza ele irá além do óbvio. No fim do ano chega aos cinemas a historia do Êxodo dirigida pelo Ridley Scott. Mais uma oportunidade de fazer do cinema uma plataforma de qualidade para propagar o evangelho. Por fim, ótima publicação!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, tenho grandes expectativas de que o diretor de Noé surpreenda, o mesmo com Ridley. Essa preocupação de fazer filme cristãos para cristãos tem feito com que o poder do Evangelho se torne limitado e o cinema que poderia ser uma ótima ferramenta para impactar vidas, se torna um simples entretenimento barato, espero que daqui pra frente as pessoas possam enxergam ele de outra forma!
      Obrigada, sua opinião como entendido no assunto, faz toda diferença! :D

      Excluir
  3. "Tão boa que atraia pessoas que estão fora da cultura cristã!"

    Esse deve ser o objetivo elementar de qualquer unidade cristã. No caso do cinema, temos a chance de democratizar o que Jesus ensinou, transformar em arte o que já foi contado de forma artística, metafórica, mas com uma verdade interior gigante, que rasga a casca supérflua humana e vai até o fundo da sua alma, porque é texto, mas também é o Espírito falando.

    Gostei muito do post! Difícil achar abordagens cristãs que sejam também críticas. As pessoas costumam limitar o conhecimento bíblico, não fazendo aquela mensagem tomar dimensões de diferentes contextos.

    Gostaria de saber um pouco mais sobre este curso que você disse ter feito em Hollywood, Evana. Me formo agora em publicidade e vou começar uma pós em roteiro de cinema e tv. Fiquei interessada, se puder me passar detalhes, te agradeço!

    Bjs e Deus abençoe!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Yasmin, concordo com vc! eu acho importante sermos críticos e olhar o meio que nós vivemos sobre a luz do evangelho, mas infelizmente a maioria dos cristãos se fecham em uma bolha dentro das suas igrejas como se fossem intocáveis! é preciso ver além.
      Eu fico feliz pelo interesse, eu daria todas as informações que vc gostaria, mas infelizmente não fiz curso algum, na verdade o texto é de autoria de um escritor americano, Nate Fleming, apenas publiquei a tradução feita de um de seus textos. Quem dera eu tivesse feito, seria um sonho! quem sabe um dia? kkk
      Amém! que Deus te abençoe tb!

      Excluir
  4. Thank you for reproducing the blog here in Portuguese! I'm amazed and honored that something I wrote has gone across languages, and that the conversation it started is extending far and wide. May God grant us a renaissance in Christian art!

    Blessings,
    Nate

    P.S. I've written a part II, which is a message to the artist. I'd love to hear your thoughts.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Thank you for your words, the truth is that i feel honored that you have come here and give me your opinion. Yes, answer the readers about your text and has been very positive generated a constructive discussion, i hope that come help future filmmakers and scriptwriters to seek a revival in christian art. Sium, i read the second part in brief publish translation of it for my readers and let you know on your blog when you publish it.
      God bless you!

      Excluir
  5. Nossa, excelente artigo!
    A maioria das vezes que nos sentamos para ver um filme cristão estamos buscando conforto e um impulso para seguir com a nossa fé mais ainda, mas e as pessoas que não possuem a mesma fé que nós? Entenderão o filme ou logo se cansarão? É preciso buscar direção do Espírito para se contar boas histórias.
    Deus te abençoe!

    http://princesas-adoradoras.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir