Um Lugar Chamado Nárnia – Parte II

16.8.12

Escrito por: Renata Ribeiro Arruda (Grupo News)
Um Lugar Chamado Nárnia – Parte II

A Nárnia que o guarda-roupa esconde.

Este artigo é o segundo de uma sequência de sete sobre “As Crônicas de Nárnia”, criação do escritor irlandês C.S.Lewis, que teve, recentemente, três episódios da série adaptados para o cinema: “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, “Príncipe Caspian” e “A Viagem do Peregrino da Alvorada”.
Embora a série de C.S.Lewis sobre Nárnia seja apenas como um bom sonho, ela nos traz tantas sensações agradáveis que queremos, após acordar, voltar a dormir para sonhar um pouco mais.
Se no primeiro livro as crianças Digory e Polly chegam a Nárnia pelo poder de um anel, a magia que leva para lá os quatro irmãos Pevensie, no segundo da série, anos depois, é bem outra. O país mágico encontra-se sob o governo maligno da Feiticeira Branca. As criaturas narnianas, que são oprimidas pela rainha má, aguardam a chegada de quatro humanos que, segundo antigas profecias, são prenúncio de bons tempos para as terras do Norte.
Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia, que moravam em Londres, são enviados para uma casa distante da cidade a fim de serem protegidos de ataques aéreos provocados por uma guerra na capital da Inglaterra. O lar temporário das crianças passa a ser o imenso casarão de um professor de cabelos desgrenhados e brancos, mas experiente e amável.

Deus existe? E o homem, existe?

Foi então em uma das explorações da casa que as crianças descobriram uma sala mobiliada apenas com um guarda-roupa. Os irmãos mais velhos nem deram muita atenção para o lugar, ao contrário da caçula, que resolveu tentar abrir a porta do móvel antigo, iniciando assim sua inesquecível aventura pelas terras de Nárnia.
Ao chegar lá, Lúcia encontra uma criatura com pernas de bode e rosto de homem, de quem recebe um convite para ir até sua casa. Nesse trecho, um trocadilho divertido pode ser encontrado. Na ajeitada casa do novo amigo, a menina vê, entre outras obras na estante, o seguinte título: “É o homem um mito?”.
De forma “brincalhona”, Lewis parece dialogar com o cientificismo ateu que coloca em xeque a existência de Deus. É como se ele nos dissesse que, num mundo muito mais real, nossas dúvidas sobre a existência de Deus são tão bizarras e absurdas como deve ter sido para a pequena Lúcia avistar tal livro na estante de um fauno.

É lógico que há outro mundo

Noutro dia, enquanto os irmãos brincavam de pique-esconde, Edmundo entra no guarda-roupa e conhece também o mundo encantado. Mas quando Lúcia pede ao irmão que confirme a Pedro e Susana a existência de Nárnia, ele nega. Nesse momento, as relações ficam tensas entre as crianças e, diante disso, os dois mais velhos resolvem levar a situação ao professor.
O dono da casa se mostra sábio e ainda mais peculiar a partir do diálogo que trava com as crianças. Como qualquer pessoa adulta, ele deveria rir da história que Pedro e Susana lhe contam sobre a existência de um mundo encantado. No entanto, para o espanto dos meninos, ele questiona a desconfiança dos irmãos e se queixa: “Eu gostaria de saber o que estas crianças aprendem na escola”.
Encontramos aqui mais uma vez uma paródia dos tempos atuais. Não são divulgadas como verdades óbvias as teorias do relativismo e do evolucionismo? O mundo espiritual e o Reino de Deus não são considerados absurdos e histórias mitológicas? E o pior, ao levarmos a sério a existência de um mundo superior, podemos ser considerados “loucos da cabeça”, do mesmo modo como Lúcia pelos irmãos mais velhos.

A magia que rege Nárnia

Contrariando a lógica humana que impedia Pedro e Susana de acreditarem no país fantástico, o poder mágico do guarda-roupa leva os irmãos a Nárnia. Lá eles descobrem um mundo de criaturas diferentes, com um tempo diferente e leis naturais bem diferentes.
Ao chegarem, recebem notícias importantes dos animais falantes: Sr. Tummuns fora preso pela guarda da Feiticeira Branca, e Aslam estava pelas redondezas. Os quatro filhos de Eva, como eram chamados os humanos em Nárnia, foram recebidos com grande expectativa. O casal de castores, que os acompanharam até Aslam, recitou diversas profecias que os apontavam como essenciais para o destronamento da Feiticeira.
Após diversas aventuras, num misto de expectativa e medo, as crianças chegam até o acampamento do tão aclamado Aslam. O leão, que é o verdadeiro senhor de Nárnia, não poderia ser mais bem descrito. Facilmente conseguimos visualizar no poderoso mas dócil animal a pessoa de Jesus.
No entanto chegam até as tropas de Aslam (que se preparam para derrotar o inverno provocado pela Feiticeira Branca) apenas duas Filhas de Eva e um Filho de Adão. A quarta criança – Edmundo – fora seduzida pela Feiticeira e também pela própria ambição de vingar-se do irmão mais velho. Sua escolha o fez sofrer maus tratos da “bruxa” e ficar junto do exército do mal. Entretanto, num atentado às tropas de Aslam, o menino é resgatado.
É então que as leis de Nárnia são reivindicadas pela Feiticeira. Segundo a Magia Profunda – leis estabelecidas antes da criação do país –, um traidor, como era o caso do Edmundo, deveria ser morto. Portanto a vida do jovem teimoso ficaria nas mãos da Feiticeira. Aqui vemos um claro paralelo que Lewis faz com a lei, em que o adultério, máxima da traição, deveria ser pago com a morte do adúltero.
Mas, assim como Jesus vem garantir a nós, pecadores, sua graça, fazendo-a superabundar onde houve pecado, Aslam conclama a Magia Mais Profunda, até então desconhecida pelas criaturas do mal:
"Mas, se tivesse sido capaz de ver um pouco mais longe, de penetrar na escuridão e no silêncio que reinam antes da aurora do tempo, teria aprendido outro sortilégio. Saberia que, se uma vítima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte começaria a andar para trás… ¹"
É essa magia “mais que profunda” que encontramos no texto da carta aos Coríntios. Paulo afirma que tal graça é tão elevada, tão superior que ninguém poderia supor ou imaginar. Assim como a Feiticeira não poderia compreender uma magia mais profunda, também não houve quem pudesse conhecer os pensamentos de Deus de enviar seu próprio filho.
Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam (1 Coríntios 2.7-9).
E assim, após a vitória triunfal de Aslam, as quatro crianças se tornam reis e rainhas de Nárnia. Já no final do livro, um fato me parece muito tocante. Após ter quase destruído as esperanças de Nárnia, o menino Edmundo, que fora um traidor, pelo grande poder e bondade do senhor de Nárnia, é coroado rei Edmundo, o Justo.

Este volume é muito rico em analogias, mas nosso espaço é limitado. Não perca a chance de desvendá-las você mesmo. Até a próxima com “O cavalo e seu menino”.

¹ Trecho de “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, em que Aslam explica para Lúcia e Susana seu triunfo sobre a morte
Fontes: Bíblia online

Ilustração: Pauline Baynes

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