C.S LEWIS ESCREVE SOBRE 'O HOBBIT' DE T.R TOLKIEN EM 1937

28.11.13

A amizade entre C.S Lewis não é novidade para ninguém e com o anúncio do filme que contará mais sobre essa relação entre eles, detalhes como a crítica de Tolkien a respeito das Crônicas de Nárnia também será incluído. 

The Paris Review publicou esta resenha do livro de JRR Tolkien, O Hobbit , escrito por CS Lewis, logo depois que o livro foi lançado em 1937. Bem diferente das críticas negativas de seu amigo Tolkien sobre As Crônicas de Nárnia, sem surpresa, Lewis faz uma previsão que acaba se concretizando mais tarde.


Um mundo para as crianças: JRR Tolkien, The Hobbit: There and Back Again
(Londres: Allen and Unwin, 1937)

Os editores dizem que O Hobbit, apesar de diferente de Alice, parece muito a obra de um professor brincando. O importante é que ambos pertencem a uma classe restrita de livros que não possuem nada em comum, salvo que cada um de nós admite um mundo próprio, um mundo que parece ter sido criado muito antes de nós tropeçarmos nele, mas que, uma vez encontrado pelo leitor certo, torna-se indispensável para ele. Seu lugar é com Alice , Flatland , Phantastes , O Vento nos Salgueiros . [1]
Definir o mundo de O Hobbit é, obviamente, impossível, porque é um mundo completamente novo. Você não pode antecipá-lo antes de estar lá, e uma vez que está, nunca mais consegue esquecê-lo. As admiráveis ilustrações criadas pelo autor de Mirkwood, Goblingate e Esgaroth deixam o leitor suspeito – assim como os nomes dos anões e do dragão que saltam aos olhos assim que começamos a virar as páginas. Mas existem anões e anões, e nenhuma história para crianças oferece criaturas tão enraizadas em suas próprias origens e histórias do que essas criadas pelo professor Tolkien – que obviamente conhece muito mais do que seria necessário para a criação dessa saga. E a receita comum da criação de histórias não nos prepara para as mudanças curiosas e feitas tão casualmente no tom do começo do livro (“Hobbits são pessoas pequenas, menores do que anões – e não possuem barbas – mas muito maiores do que Lilliputians”) [2] para as proporções épicas dos capítulos vistos mais para o final (“Está em minha mente questionar qual parte da nossa herança você teria dado aos de nossa raça caso encontrasse o tesouro sem guardião e nós mortos”).[3] Você deve ler com seus próprios olhos para descobrir como a mudança na escrita é inevitável e como ela se mantém lado a lado na jornada do herói. Apesar de tudo ser maravilhoso, nada é arbitrário: todos os habitantes de Wilderland parecem possuir o direito inquestionável de existência do que aqueles do nosso mundo, mesmo que a criança sortuda que os conhecer não possuia noção alguma – assim como seus pais – das fontes profundas em nosso sangue e tradição que dão vida a eles [os habitantes de Wilderland].
Deve ser entendido que esse é um livro para crianças somente no sentido de que ele pode ser lido desde a mais nova infância. Alice é lido de forma grave por crianças e como algo engraçado por adultos; O Hobbit, por outro lado, será mais engraçado para os leitores jovens e, apenas anos mais tarde, na décima ou décima-primeira leitura, será possível perceber a profunda reflexão e estudos vigorosos que foram utilizados para que tudo fosse tão maduro e tão amigável, e de sua própria maneira, tão verdadeiro. Previsões são perigosas: mas O Hobbit pode muito bem se tornar um clássico.”

1. Flatland (1884) é de Edwin A. Abbott, Phantastes por George MacDonald (1858).
2. The Hobbit: ou There and Back Again (1937), capítulo 1.
3. Ibid ., capítulo 15.
Imagem e Imaginação: Ensaios e Resenhas , de CS Lewis, editado por Walter Hooper. Copyright © 2013 CS Lewis Pte Ltd. Reproduzido com a permissão da Cambridge University Press .
Este artigo foi publicado originalmente no Times Literary Supplement. Clique aqui para lê-lo no site do TLS.

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